sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Decepção

Era uma vez uma menina sonhadora. Vivia em seu mundinho cor-de-rosa acreditando serem todas as pessoas boas e felizes assim como ela o era. Sim. Pensava ser a vida um perfeito conto de fadas.

Porém, algo mudou. Ela cresceu. Não era mais aquela criança inocente. Passou a experimentar sentimentos que nunca antes vivenciara. Seus pais não mais podiam mascarar a realidade.

Descobriu que os príncipes encantados se limitavam às páginas dos livros e às cenas dos filmes. Os homens todos mentem. Muitos traem. Poucos são românticos. Nenhum é perfeito. Decepção. A menina ficou triste.

Descobriu que a distribuição de bens materiais é desigual no mundo. Há pessoas com muito dinheiro, vivendo em conforto, podendo adquirir o que quiser. Contraste. Há outras morando nas ruas, pedindo moedas aos transeuntes, passando fome. Decepção. A menina sentiu dó.

Descobriu que as doenças não se restringiam ao seu resfriado e à sua dor de barriga. Existem enfermidades graves, ainda incuráveis, que tiram a vida de muitos, como o câncer e a AIDS. Decepção. A menina ficou angustiada.

Descobriu que não existiam apenas o vento e a chuva como fenômenos naturais. Terremotos, furacões, tsunamis acontecem em muitas regiões do mundo, destruindo áreas enormes e deixando muitos feridos e mortos. Decepção. A menina sentiu medo.

Descobriu que os “maus” não eram apenas os feiticeiros dos contos de fada. Há seres humanos que roubam e matam inocentes por nenhum motivo. Há inveja, pessoas tentando ser melhores do que as outras. Há egoísmo, gente pensando apenas em si. Decepção. A menina ficou raivosa.

A jovem, enfim, havia acordado de seu sonho infantil. Tudo não passara de ilusões. Mas ela não queria ter despertado. Por isso, escreveu esta carta, revelando a todos o motivo de sua partida.
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A jovem sorriu. Finalmente, encontrou o seu final feliz.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Como eu fora feliz...

Uma borboleta pousada sobre minha mão. Uma luz muito forte vinda do Sol. Uma dor se propagando por todo o meu corpo. Era difícil respirar. Como fora parar neste lugar? Vagas lembranças eu tinha do passado recente que me deixara em tal situação.

Uma noite. Uma festa à fantasia. Uma máscara. Um homem bonito. Uma conversa. Uma dança. Um beijo. Uma bebida. A escuridão...

Não conseguia me lembrar de nada mais. Não conseguia ao menos estender meu corpo. Não conseguia sequer me mover daquela posição.

Abri meus olhos novamente. Dessa vez, a luz não me afetou tanto quanto da primeira vez em que o fiz. Já estava me adaptando à claridade. Consegui mover a minha cabeça para o lado direito e desta forma, explorar o ambiente com minha visão.

Uma árvore. Uma grama alta. Algumas poucas flores. Nenhuma pessoa. Fechei os olhos. Pude ouvir alguns ruídos. Pássaros voavam por ali. Onde eu estaria? O que acontecera?

Minha cabeça doía impedindo-me de pensar. Eu sentia sede e fome. Entretanto, o meu único desejo era voltar para casa. Eu precisava sair deste lugar desconhecido. Há quanto tempo eu estaria ali?

Tornei a abrir os olhos. Movi meu braço direito até a minha cabeça com tamanho esforço. Foi então que percebi estar suja, arranhada, com hematomas e marcas de sangue na pele. O que teriam feito comigo?

Apoiei meu braço no chão e consegui elevar meu corpo. Esta tarefa, antes tão fácil para mim, foi extremamente árdua e dolorosa. Era como se o meu fino braço tivesse de sustentar uma tonelada.

Pude ver que minha roupa estava rasgada. Subitamente, senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. Foi neste momento em que eu realmente tomei consciência da situação em que me encontrava.

Machucada. Perdida. Sozinha.

Como eu poderia sair dali? Mais lágrimas desciam por minha face. Tentei gritar. Minha voz não saiu como eu esperava. Não tinha força para isso e seria em vão me esforçar para tal uma vez que não havia ninguém no meu campo de visão.

Tentei me levantar completamente do chão. Era difícil, mas consegui. Para onde ir agora? Eu só via mato ao meu redor. Andei por alguns minutos que se prolongaram como muitas horas. Até quando eu aguentaria?

Como pensara: não por muito tempo. Precisava parar. Sentei-me. Não poderia prosseguir. O cansaço e a dor me impediam de fazê-lo.

Contra a minha vontade, o braço que apoiavameu corpo deslizou pela grama e mais uma vez, eu estava deitada. Não tinha mais nada a fazer. Desejava apenas que alguém pudesse me encontrar e me tirar dali.
Fechei os olhos. Meus pensamentos foram abafados com cenas da minha infância e adolescência. Como eu fora feliz...