quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Como eu fora feliz...

Uma borboleta pousada sobre minha mão. Uma luz muito forte vinda do Sol. Uma dor se propagando por todo o meu corpo. Era difícil respirar. Como fora parar neste lugar? Vagas lembranças eu tinha do passado recente que me deixara em tal situação.

Uma noite. Uma festa à fantasia. Uma máscara. Um homem bonito. Uma conversa. Uma dança. Um beijo. Uma bebida. A escuridão...

Não conseguia me lembrar de nada mais. Não conseguia ao menos estender meu corpo. Não conseguia sequer me mover daquela posição.

Abri meus olhos novamente. Dessa vez, a luz não me afetou tanto quanto da primeira vez em que o fiz. Já estava me adaptando à claridade. Consegui mover a minha cabeça para o lado direito e desta forma, explorar o ambiente com minha visão.

Uma árvore. Uma grama alta. Algumas poucas flores. Nenhuma pessoa. Fechei os olhos. Pude ouvir alguns ruídos. Pássaros voavam por ali. Onde eu estaria? O que acontecera?

Minha cabeça doía impedindo-me de pensar. Eu sentia sede e fome. Entretanto, o meu único desejo era voltar para casa. Eu precisava sair deste lugar desconhecido. Há quanto tempo eu estaria ali?

Tornei a abrir os olhos. Movi meu braço direito até a minha cabeça com tamanho esforço. Foi então que percebi estar suja, arranhada, com hematomas e marcas de sangue na pele. O que teriam feito comigo?

Apoiei meu braço no chão e consegui elevar meu corpo. Esta tarefa, antes tão fácil para mim, foi extremamente árdua e dolorosa. Era como se o meu fino braço tivesse de sustentar uma tonelada.

Pude ver que minha roupa estava rasgada. Subitamente, senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. Foi neste momento em que eu realmente tomei consciência da situação em que me encontrava.

Machucada. Perdida. Sozinha.

Como eu poderia sair dali? Mais lágrimas desciam por minha face. Tentei gritar. Minha voz não saiu como eu esperava. Não tinha força para isso e seria em vão me esforçar para tal uma vez que não havia ninguém no meu campo de visão.

Tentei me levantar completamente do chão. Era difícil, mas consegui. Para onde ir agora? Eu só via mato ao meu redor. Andei por alguns minutos que se prolongaram como muitas horas. Até quando eu aguentaria?

Como pensara: não por muito tempo. Precisava parar. Sentei-me. Não poderia prosseguir. O cansaço e a dor me impediam de fazê-lo.

Contra a minha vontade, o braço que apoiavameu corpo deslizou pela grama e mais uma vez, eu estava deitada. Não tinha mais nada a fazer. Desejava apenas que alguém pudesse me encontrar e me tirar dali.
Fechei os olhos. Meus pensamentos foram abafados com cenas da minha infância e adolescência. Como eu fora feliz...