segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Inatingível - Parte V

- Boa noite – cumprimentou Joana friamente, apenas por educação.

- Olha quem está aqui... Joana, aquela que sempre teve tudo o que quis. – disse a jovem que se encontrava dentro do elevador. Joana ignorou o comentário. – Garota, para que essa roupa? Ainda não está satisfeita com o Raphael? Claro que não... Você quer ser sempre a melhor, né?!

- Patrícia, por favor, eu não quero discutir com você. Acho que não temos mais nada para conversar. – O elevador chegou ao térreo. Joana abriu a porta e saiu seguida pela outra jovem.

Patrícia fora a melhor amiga de Joana por muitos anos. Conheceram-se ainda quando crianças. Ela morava no mesmo prédio de dona Isaura e brincava com Joana todas as vezes que esta visitava a sua avó, principalmente nas férias. Tinham a mesma idade, com diferença de poucos meses. Formaram-se pela mesma universidade, porém, Patrícia fizera educação física.

Faziam parte do mesmo grupo de amigos e as duas eram apaixonadas pelo mesmo rapaz: Raphael. Todavia, ele gostava mesmo de Joana, o que criou um clima de tensão entre as duas amigas. Quando os dois começaram a namorar, Patrícia simplesmente parou de falar com Joana e passou a comentar que ela era falsa e traidora para todos os seus colegas. Conhecendo o caráter de Joana e toda a situação ocorrida, os amigos delas foram aos poucos se afastando de Patrícia porque achavam a sua atitude muito infantil, o que a deixou com ainda mais raiva.

- Ei, espere! Não fuja! Está com medo? – gritou Patrícia segurando o braço de Joana.

- Não é nada disso. Solte-me, por favor!

- Então me diz aonde você vai assim toda arrumada.

- Eu não te devo satisfações da minha vida. Me solta a-g-o-r-a! – Joana gritou.

- Você sempre teve tudo o que quis, né? Sempre querendo ser melhor do que eu... Os melhores brinquedos, as melhores roupas, as notas mais altas na época da escola,... Os nossos amigos sempre eram mais próximos de você e até o cara que amávamos escolheu você. Não está satisfeita? – Patrícia estava aparentemente com muita raiva.

Ela era alta, magra, longos cabelos pretos cacheados, pele clara, olhos azuis. Sempre fora muito invejosa. Sempre quisera tudo o que Joana tinha e que ela nunca pode ter, desde uma boneca até o carinho dos pais. Seu pai divorciou-se de sua mãe quando ela tinha 5 anos para viver em outro estado com uma mulher dez anos mais jovem. Nunca ligava para saber dos filhos, cumprindo apenas a obrigação imposta pela justiça de pagar uma pensão mensal.

Sua mãe, buscando sustentar os filhos, passou a trabalhar muito mais. Saía cedo e chegava tarde, de segunda a sábado. Portanto, nunca pode dar muita atenção aos seus filhos. Para piorar a situação, Patrícia tinha um irmão, Pedro Henrique, quatro anos mais novo, de quem tinha que cuidar.

- Patrícia, por favor, quantas vezes eu vou ter que dizer que é melhor você procurar um psicólogo? – Joana tentava manter a calma.

- Agora está dizendo que eu sou maluca? Se tem alguma doida aqui, com certeza não sou eu...

Joana escutou uma buzina e pensou “Que sorte! O Raphael chegou mais cedo!”.

- Eu tenho que ir agora, okay? Meu namorado já chegou... – Foi andando na direção do portão do prédio.

- Vai! Mas saiba que essa conversa não acaba aqui. – Patrícia falou em um tom de voz mais baixo, de modo que Joana não pudesse escutar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Inatingível - Parte IV

6:30 p.m. Joana abriu a porta de seu apartamento. Morava apenas com sua avó, Isaura, porque quando passara para a faculdade alguns anos antes, tivera que se mudar de cidade, deixando, portanto a casa de seus pais para residir com sua avó paterna. O apartamento em que moravam não era grande. Tinha dois quartos, sendo um deles suíte; banheiro; sala; cozinha e uma pequena varanda.

- Vó? Já cheguei. Tudo bem com a senhora?

- Olá, filhinha. Saiu mais cedo do trabalho hoje? – perguntou dona Isaura que se encontrava sentada no sofá assistindo a uma novela na televisão.

- Sim, vou sair com o Rapha. É nosso aniversário de namoro. Dois anos já, nem parece. Como o tempo passa rápido quando estamos com quem amamos... – suspirou.

- É isso mesmo. Você tem que aproveitar enquanto é nova porque depois fica assim toda enrugada como a vovó e não tem como voltar no tempo. O Raphael é um ótimo rapaz. Gosto muito dele.

- É verdade, vó. Vou lá tomar banho agora.

Joana foi até o seu quarto, deixou a bolsa sobre a cama e caminhou até o banheiro que ficava em sua suíte. Tirou a roupa, abriu a torneira do chuveiro e começou a molhar-se lentamente. A água estava quente, era bom. Ela estava muito feliz, queria tornar aquele dia inesquecível.

Terminou o banho alguns minutos depois. Saiu do banheiro enrolada na toalha e dirigiu-se ao seu guarda-roupa para procurar uma vestimenta adequada para a ocasião. Jogou várias peças sobre a cama, contudo, nada lhe agradava, até que encontrou um vestido longuete vermelho de pano fino bordado.

- Ah! – exclamou – Perfeito! Nem lembrava mais que eu tinha isso...

Vestiu-se. Colocou um par de brincos e um colar de ouro branco que pertenceram à sua avó. Secou o cabelo com o secador. Geralmente, Joana usava óculos de grau, entretanto em ocasiões especiais, colocava lentes de contato transparentes, e assim o fez. Pintou os olhos. Passou um pouco de blush no rosto, ficando com a bochecha rosada. Calçou uma sandália prateada de salto.

Estava pronta. Olhou-se no espelho. Estava linda. A cor do vestido realçara a sua pele alva. Joana era ruiva, tinha olhos castanhos, um olhar profundo; cabelos lisos na altura do ombro; estatura média; magra. Costumava vestir-se com roupas discretas, portanto, não chamava tanta atenção para si, mas quando arrumava-se, ficava muito bonita.

- Vó, como estou? – perguntou ao chegar na sala e deu uma voltinha ao redor de si própria.

- Divina!

- Obrigada, vó. Vou pegar minha bolsa e esperar lá embaixo pelo Raphael, porque ele passará às oito horas.

- Mas ainda são sete e meia.

- Eu sei, porém, prefiro ter de esperar a fazê-lo esperar caso ele chegue um pouco antes.

- Está certa. Vai lá. Divirta-se! Quando chegar, provavelmente já estarei dormindo, mas pode me acordar para dizer que chegou bem.

- Ok. Boa noite, vó.

Joana pegou a bolsa e saiu. Esperou por alguns minutos o elevador, até que ele chegou. A porta abriu-se e, para seu azar, havia uma pessoa indesejada lá dentro. “Ah, não. Ela tinha que aparecer logo agora? Mas ela não vai estragar a minha noite.” – Pensou Joana e entrou no elevador.

domingo, 2 de agosto de 2009

Inatingível - Parte III

- Calma! Não precisa ter medo – uma voz masculina falou – Lembra de mim, Naninha?

- Ai, Gui, é você! Que susto eu levei! – Joana falou ainda ofegante.

O homem do carro tirou os óculos escuros que cobriam seus lindos olhos verdes. Tinha a pele bronzeada, cabelo castanho-claro com lindos cachos. Seu nome era Guilherme. Fora da sala de Joana durante a época da faculdade. Todas as garotas de sua sala sempre o admiraram por sua beleza, exceto ela. Isso sempre o intrigou, principalmente quando ela rejeitara o seu beijo no sexto período da faculdade.

Guilherme não era um tipo que aceitava facilmente um não de uma garota. Sempre fora acostumado a ser o centro das atenções. Além de muito bonito, tinha muito dinheiro. Seu pai era empresário, dono de uma rede de empresas de aparelhos tecnológicos. Apesar disso, o jovem não tinha notas muito boas, já que isso não lhe importava.

- Você continua linda! – ele falou e Joana corou. – O que faz por aqui a essa hora?

- Saí mais cedo do trabalho. Estava indo pegar um táxi para voltar para casa.

- Não precisa. Eu te dou uma carona. Você ainda mora no mesmo lugar de antes?

- Moro sim.

- Então entra aí.

- Muito obrigada. – ela falou enquanto abria a porta.

Joana sentou-se no banco da frente do carro e colocou o cinto de segurança. Guilherme deu partida no carro e perguntou:

- Me diz, você ainda está namorando aquele idiota da medicina?

- Não fale assim do Raphael. Hoje completamos dois anos de namoro – parou um pouco de falar e olhou para o lado. Vendo que Guilherme permanecia calado, continuou – Foi por essa razão que eu saí cedo do trabalho. Ele vai me levar a algum lugar às vinte horas, mas ainda não sei aonde...

- Você não se cansa dele não? Que cara palhaço. Cheio de segredinhos.

- Eu gosto de surpresas e eu o amo muito. Sei que ainda pode ser cedo para falar isso, mas eu pretendo me casar com ele um dia.

- Nossa! Casar? Você ainda é tão jovem. Com apenas 24 anos e já pensa nisso? Que coisa ultrapassada.

- Ah, não fale assim. O casamento é a concretização do amor. – suspirou – É tão lindo...

- Parece a minha avó falando, Naninha – esse era o apelido de Joana na época da faculdade.

- Bom, vamos mudar de assunto. Desculpe, mas hoje você não vai conseguir me irritar, Gui.

- Foi mal.

- E você? Namorando sério ou continua o mesmo de antes?

- Depende do que você considera o mesmo de antes. – deu um sorriso abafado – Não estou namorando não. Ainda sou muito jovem para me prender a alguém. Quero apenas aproveitar a vida no momento. Quando eu encontrar a pessoa certa, eu penso em namoro. – hesitou por um instante. – Talvez eu já a tenha encontrado...

- Sério? Quem? – perguntou Joana enquanto Guilherme parava o carro na frente do prédio dela.

- Uma garota que está bem ao meu lado...

Joana ficou perplexa. Ela realmente não esperava por essa resposta. Não sabia o que falar.

- Ahn, bem. Depois terminamos essa conversa. Muito obrigada mesmo pela carona. – abriu a porta do carro, deu um beijo no rosto de Guilherme – Até algum dia.

- Eu não consegui te esquecer.

- Você vai arranjar alguém melhor. Não é tão difícil. – Joana saiu do carro, fechou a porta e andou rapidamente até a entrada do prédio onde morava.

- Não será tão simples assim. Você ainda será minha – Guilherme falou sozinho e saiu aceleradamente com o carro.

sábado, 1 de agosto de 2009

Inatingível - Parte II

Quinta-feira. Joana e seu namorado – Raphael - iriam completar dois anos de namoro naquele dia. Comemorariam de maneira diferente à do ano anterior, em que haviam tido um jantar à luz de velas. Porém, ele não quisera contar a ela o que fariam. Seria uma surpresa. Ele garantira que ela adoraria.

A jovem saiu mais cedo do trabalho a fim de se arrumar para aquela data tão especial. Tinha se formado recentemente em engenharia civil e exercia a função de estagiária em uma empresa construtora. Conhecera Raphael na faculdade. No entanto, ele ainda não havia se formado, uma vez que fazia medicina e o curso era mais longo.

Foi então pedir permissão ao seu chefe, uma pessoa muito gentil por quem tinha extrema admiração.

- Seu Raimundo, eu preciso sair um pouco mais cedo hoje porque estou fazendo aniversário de namoro e vou sair com o meu namorado. Não se preocupe quanto ao meu horário, caso necessário, amanhã eu passo do meu expediente.

- Pode ir, você é uma moça exemplar, merece. Aproveite bastante, mas não passe dos limites porque amanhã você trabalha cedo.

- Muito obrigada. Até amanhã.

Ao dizer isso, saiu eufórica da sala de seu chefe, se despediu de seus amigos, pegou suas coisas e desceu para ir embora. Andou até o ponto de ônibus e esperou. Olhou as horas no relógio de pulso. Quinze minutos para as cinco da tarde. O transporte estava demorando muito a passar, o que a deixava bastante irritada.

- Droga! – pensou – Marquei com o Raphael às oito horas da noite, mas ainda tenho que escolher a minha roupa e dar um jeito no cabelo. Não posso esperar tanto por esse ônibus maldito!

Resolveu, então, andar um pouco e pegar um táxi no ponto que ficava a dois quarteirões dali. A rua estava deserta. Provavelmente as pessoas ainda estavam no trabalho. Ela estava andando pela calçada quando um carro foi se aproximando.

- Uau! Que carro lindo! – exclamou admirada.

Era um Jaguar XKR conversível preto com vidros escuros. O carro parou ao seu lado e o vidro foi abaixando lentamente, o que fez com que Joana recuasse um pouco assustada. Quem estaria ali? Por que teria parado ao seu lado?

Inatingível - Parte I

2 a.m. As horas pareciam não passar. A casa de Joana estava imersa em um profundo silêncio, não fosse pelo tique-taque do relógio na parede da cozinha. Ela estava deitada sobre sua cama, o rosto afundado no travesseiro tentando impedir que as lágrimas escorressem. Mais uma noite de insônia. Por que aquilo tivera que acontecer? Essa era uma pergunta que ela se fazia a todo momento, enquanto lembrava do que acontecera três dias antes.

Joana tentava dormir para esquecer o que ocorrera. Ainda estava inconformada com a situação. Ela vira tudo e não fizera nada. Por quê? Sentia-se culpada de certo modo. Suas amigas tentaram acalmá-la, mostrar que ela não fora responsável, mas para ela nada do que falassem importava naquele momento.

A cena veio mais uma vez à sua mente...