Nascia o sol de um novo dia. Um
novo ano. Um novo começo. Uma nova vida, quiçá. Era assim todos os anos. 31 de
dezembro, arrependimentos do ano a findar, promessas e esperanças para o que
está por vir, roupa branca, ceia com a família, praia, simpatias e pedidos.
Fogos de artifício. 1º de janeiro. Abraços, gritos e sorrisos. Brindes. Dormir
e acordar. E com o passar dos dias, se tornava apenas mais um ano, dentre (nem)
tantos que já tinha vivido. Voltava a rotina, esqueciam-se as promessas.. 365
dias e tudo de novo.
Dessa vez seria diferente. Acordou bem cedo, antes mesmo do nascer do sol.
Trocou a roupa e foi até a praia. Vazia, a não ser por restos das oferendas e das
comemorações da noite anterior prolongadas até a madrugada. Largou suas
sandálias na areia branca. Caminhou por alguns minutos, próximo ao mar,
molhando seus pés. Sem pensar em nada. Apenas olhando à sua volta.
Os primeiros raios de sol
refletiam no mar. Refletia. Por que a vida não pode ser tão simples quanto
deveria ser? Com tanto e tanto, por que tudo repetido? As mesmas pessoas, os
mesmos lugares, as mesmas histórias, a mesma rotina. Sempre o mesmo. A mesma
vida. E por mais que mudasse, continuava a mesma. Tantos anos, tantos feitos,
tantas conquistas. Mas era tudo igual. Sempre igual.
Cansou desse álbum que já estava
completo. Tinha sido completado várias vezes. Cansou da vida vivida. Cansou e parou.
Voltou-se em direção ao mar. A luz vinda do sol agora bem forte incidia nos
seus olhos. Gostava do que via. Por que nunca tinha feito isso antes? Passos à frente.
A água na altura de seu abdome. Do seu colo. Do seu pescoço. “Feliz ano novo!!!”.
Um sorriso. Um mergulho. Foi em busca da vida.