domingo, 18 de novembro de 2012

Volta à vida

Mudanças. Quem disse que isso poderia realmente acontecer? Desiludida aquela menina esteve por muito tempo. A cada momento de pseudo-ascensões, se seguiram verdadeiras quedas. Dolorosas quedas. E ela não poderia acreditar em mais nada. Passaria cada dia sem esperanças. Por que esperaria algo? Para que criar expectativas? Estava cansada de decepções. Chorar? Já tinha chorado muito. Mas para quê? Apenas secava suas lágrimas com raiva de si mesma, arrependida por tê-las derramado, e sentindo que acabara de perder mais pontos no jogo da vida.

Conselhos. Tantos e tantos. E todos se resumiam à mesma conclusão. Não mais os ouviria. Como dizia o ditado, “se conselho fosse bom, não se dava, vendia”. E se viessem falar? Que falassem. Não seguiria. Não seguiria nem mesmo suas vontades. Ela tinha vontades ainda? Não importava também.

Ponto final? Ela disse que colocava um ponto final. Não bastavam vírgula, ponto e vírgula, ponto, ou quaisquer outras pontuações. Ela queria um ponto final. E foi isso que ela fez. E (fingiu que) ficou bem. Mas tinha um vazio. Faltava cor, faltava brilho, faltava alguma coisa. Em todos os lugares, em todos os momentos. Ela sabia que faltava. Ela não sabia o quê.

Uma (nova?) história. E quem disse que depois de um ponto final não pode ter mais nada? Volta a cor, volta o brilho, volta aquela coisa que faltava. Volta o sorriso. Volta à vida. E, agora, tudo fazia sentido. Ah, e o que faltava? Ela também não descobriu. Nem iria. Não queria.



sábado, 28 de julho de 2012

Uma Tragédia dos Erros


Enfim, uma decisão: último dia em que suposições faria sobre o que aconteceu. Apesar de não poder falar em algo que aconteceu, já que, na verdade, foi acontecendo. Era isso. Não deveria usar o pretérito perfeito para se referir a essa sequência de acontecimentos, que, a propósito, de perfeitos nada tinham. Não deveria usar, sequer, pretéritos, futuros, ou quaisquer outras conjugações verbais a partir de agora. E não deveria se culpar por nada. A culpa é o alívio dos fracos. Existem, realmente, culpados? Erros e acertos, e mais erros e mais acertos, com muito mais erros. Uma tragédia dos erros. Um ponto final.

Um novo parágrafo. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Um dia

Ela estava sentada ali, na calçada. A rua vazia. Silenciosa, a não ser por seu soluço que a irrompia de tempos em tempos. O livro que estivera lendo encontrava-se agora deitado ao seu lado. Tremeu. Era o brilho da noite chegando. Soluçou. Não poderia precisar por quanto tempo esperando ali estivera. A propósito, uma espera inútil, suspeitava. Quando chegara o sol ainda brilhava. Meio-dia? O livro. Mal tinha começado a ler. 6 páginas? 7 talvez. E agora... 158 findas. Com pausas. Assim como seu soluço.

Mais alguns minutos e, dali, partiria. Pegaria seu livro com a mão direita. Ficaria de pé. Caminharia até sua casa, a uma quadra dali. Bateria na porta, que seria aberta por sua mãe. Iria até seu quarto, deixaria seu livro na estante. Pegaria algum outro e o colocaria sobre a mesa. Tomaria um banho. Começaria a ler o livro, com seu estômago roncando de fome. Esperaria o grito de sua mãe a chamando para jantar. Sim, seria assim. Por quase uma semana estava sendo assim.

Sentada à mesa com sua mãe. Serviu-se de suco. Não haviam trocado palavras ainda desde quando ela resolveu esperar. O nó na garganta da mãe se desfez.

- Por quanto tempo você vai continuar indo àquele local? Você precisa aceitar. Ele não vai voltar.

- Você não pode ter certeza. Ele disse que viria. Que me encontraria ali, à tarde.

- Mas ele mor...

Ela levantou-se. A frase não chegou a ser completada. Ou, ao menos, não foi ouvida. Não quis ser ouvida. Voltou para o seu quarto. Não choraria. Dormiria desapontada. Mas acordaria. Veria o sol. E seria um novo dia. Uma nova espera. Um novo encontro. Ele chegaria. Ela sabia. Um dia.
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