sábado, 25 de fevereiro de 2012

Um dia

Ela estava sentada ali, na calçada. A rua vazia. Silenciosa, a não ser por seu soluço que a irrompia de tempos em tempos. O livro que estivera lendo encontrava-se agora deitado ao seu lado. Tremeu. Era o brilho da noite chegando. Soluçou. Não poderia precisar por quanto tempo esperando ali estivera. A propósito, uma espera inútil, suspeitava. Quando chegara o sol ainda brilhava. Meio-dia? O livro. Mal tinha começado a ler. 6 páginas? 7 talvez. E agora... 158 findas. Com pausas. Assim como seu soluço.

Mais alguns minutos e, dali, partiria. Pegaria seu livro com a mão direita. Ficaria de pé. Caminharia até sua casa, a uma quadra dali. Bateria na porta, que seria aberta por sua mãe. Iria até seu quarto, deixaria seu livro na estante. Pegaria algum outro e o colocaria sobre a mesa. Tomaria um banho. Começaria a ler o livro, com seu estômago roncando de fome. Esperaria o grito de sua mãe a chamando para jantar. Sim, seria assim. Por quase uma semana estava sendo assim.

Sentada à mesa com sua mãe. Serviu-se de suco. Não haviam trocado palavras ainda desde quando ela resolveu esperar. O nó na garganta da mãe se desfez.

- Por quanto tempo você vai continuar indo àquele local? Você precisa aceitar. Ele não vai voltar.

- Você não pode ter certeza. Ele disse que viria. Que me encontraria ali, à tarde.

- Mas ele mor...

Ela levantou-se. A frase não chegou a ser completada. Ou, ao menos, não foi ouvida. Não quis ser ouvida. Voltou para o seu quarto. Não choraria. Dormiria desapontada. Mas acordaria. Veria o sol. E seria um novo dia. Uma nova espera. Um novo encontro. Ele chegaria. Ela sabia. Um dia.
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