domingo, 30 de outubro de 2011

Fado

E ela continuava caminhando. Sabia que aquilo não levaria a nada. Nada além de uma angústia cada vez mais forte. Uma angústia que tirava a alma de seu corpo e a levava a um lugar tão quente quanto o inferno. Uma angústia que poderia se comparar a um nó na sua garganta, a um aperto no seu peito. Mas ela persistia. Sem saber por quê. Nem para quê.


A estrada se alongava infindavelmente. Quando parecia estar terminando, uma nova curva surgia. Essa curva estivera escondendo mais um longo caminho a ser percorrido. E ela sabia que no final deste, haveria outra curva. E outro caminho. E outra curva. E assim seria.


Todavia, ela tinha uma esperança. E essa esperança se reavivava a cada nova direção que ela tomava. E era perdida quando ela avistava uma curva. Novamente uma curva.


Estava anoitecendo. A escuridão se faria em pouco tempo. A escuridão a impediria de prosseguir. E ela começou a achar que seu fado seria desistir. Mas logo ela? Ela que sempre achou que desistir era para os fracos. Ela que sempre foi corajosa. Ela que sempre gostou de vencer os desafios.


Não. Não seria a ausência de luz que a impediria. Deixaria que seus instintos a guiassem a partir dali. Ela confiava neles. Foi obrigada a confiar. E, assim, poderia conseguir. Conseguir não o que queria, porém o que lhe estivesse destinado.


Foi, foi, foi. E foi. Em um determinado instante, seu pé direito não teve mais chão sob ele. Provavelmente, a longa estrada havia terminado. Chegaria então ao seu fim. À morte.


E naquele 1 segundo entre a percepção de que não havia mais nada pela frente além do abismo e o próximo passo que levaria à sua queda, ela viu alguns momentos de sua vida. Ao contrário do que dizem, ela viu as suas piores lembranças. Choro, tristeza, decepções, rejeições. E ela teve vontade de acelerar o tempo. Não queria mais pensar nisso. Ainda mais sabendo que em milésimos de segundo ela morreria.


Que acabasse logo, então. Mais nada sob seu pé esquerdo.


Uma mão no seu braço direito...